LAÍS


                Uma pedra. Inicio.

 

 

                 O colar que Laís usava sôbre o  colo era de um colorido especial. Visto que daquele ângulo as pedras insinuavam todas as cores, de outro processavam a informação de suas sardas. A visão era considerada um dom e naquela simetria diáfana os dedos da mão ocultavam nela destramente a luz movia-se em sua trajetória elucidativa.

 

                O tempo tornava-se molecular quando percebida a respiração sob o seu peito. O oráculo de um colar contava as suas pedras para circular todo um país.

 

                E ali ela estava. Naquele aeroporto absurdo por não ser porto de país nenhum.

 

                Esta imagem inaugural da existência de Laís era incontornável. Todos os olhos a focavam. Até o desfocar durava o instante. O sempre mesmo instante. De vida. E de morte.

 

                Se Laís tivesse um completo nome ainda assim o Sistema de Identificação não a teria resolvido. No país nenhum.

 

                E ali ela estava.

                Simplesmente uma aristocrata de Delfos.

 

 

 

 

 

                Foi assim:

 

                Deixaram Alimara Nim (Laís) no alto da Pedra da Gávea. A nave se foi como viera. De Orion. (Delfos).

 

                A luz verde ficara implantada em sua garganta.

 

                A praia lá embaixo cheia das frutas caju. Perder a paz de Orion era o preço. Mas não tinha preço a paz.

 

 

                Os indígenas que veriam Alimara Nim (Laís) descer da nave endeusaram-na como Coaraci-mirim. Ofereceram-lhe muitos cajus em cestos  de tranças de palmeira. E eram felizes por certo. E também por isto.

 

                O hiper-espírito de  Alimara Nim continuava em Orion. Esta era a experiência: refletir no seu Hasha a distância de um momento ciclópico exato.

 

                Quando Hishi, o espírito do pajé, incorporou o Hasha de Alimara Nim , na frequência dos dois mundos, êle entreviu Laís no futuro. E levaram-na de volta para o alto da Pedra.

 

                A porta estava aberta e ela entrou. Dali pra frente todos os anos naquela época do ano refaziam aquilo em ritual exorcista. E tem sido assim desde que o mundo é mundo.

 

               

 

 

                Por quem seria que Laís cantava?

 

                Dentro da Pedra Alimara Nim converteu-se no espírito da Pedra, jorrava luz verde como se a Pedra fosse o chakra dansante do País.

 

                Dez mil anos se passaram da mesma forma como que tudo passa deste lado de fora da porta.

 

 

 

                Que droga ofereceram à Laís naquela noite de festa de fim de milênio?

 

 

                Importa mesmo saber? É que ninguém conhece Laís a fundo. Mas todos tem a impressão que ela está NOUTRA.

 

                Com vocês, LAÍS. Diz o apresentador da tv .

 

                Diz que vive no Leblon. Anda muito de táxi e pouco a pé. Corre no seu jeito de seu espírito estar sempre mais à frente dez meses, pela praia de Ipanema. Mais ainda, no tempo em volta da montanha.

 

                Pousei no arquétipo como se pousa numa flor.

 

                Planei. Eram nuvens sôbre aquela montanha. Da Gávea.

 

                Laís, Laís, Laís, gritava eu lá do alto. Alimara Nim está ali. Eu apontava para dentro da rocha,

                com os dedos das mãos contados.

 

 

                Haveria uma situação em que os irmãos se olhassem e só avistassem os sinais do Bem.

 

                Era do Bem insólito porque solto.

 

                Pousei no arquétipo como se pousa numa flor.

 

 

 

                Só de longe e  se ouvindo Laís  percebe-se a estória escrita nas paredes da garganta da Pedra.

Garganta do País Nenhum.

 

                Foi assim que aconteceu comigo, longe do burburinho  do Rio de Capitu , para flagrar-me quentre a Pedra e o Pão de Açúcar uma linha visionária move montanha para a esquerda, montanha para a direita, abrindo uma brecha pro coração da estória.

 

                Lá dentro vive a dimensão possível  de Alimara Nim na Terra.

 

                Preparando-nos para o salto em dimensão que é para onde aponta a tal da luz Verde Laís entoa-nos cânticos subtraídos às suas paixões.

 

                Perguntam-se se Laís será só um pretexto para a revelação?

 

                Não acredito em tal nóia.

 

                Só de Longe e se ouvindo Laís…

 

 

 

                O fato  que , após o sucedido, as culturas separadas terem separados os deuses imortais dos humanos condicionados e a matriz desta condição estampada nas artes ditas decorativas por tentarmos esconder o nosso drama.

 

 

 

                Não acrescenta ao nosso drama mais nenhum, que a espessa fumaça urbana nos encobre.

 

                Conflitos sociais, étnicos e o esquimbau a quatro. Debaixo da fumaça vale tudo. É o que Alima Nim nos faz compreender com o seu canto.

 

 

               

É que tudo passa , o mesmo na vida de infinitos universos. Não bastará esta constatação para acordarmos? Seja lá o que isso for.

 

                A afronta ao Hishi do pajé foi justamente nesta medida, quando não viu a praia dos cajus mais a frente. Seja lá o que isso for, disse o pajé na sua língua já morta.

 

                Laís não poderia existir sem o  laço especial com Alimara Nim, no espaço de memória, já imemorial apesar de.

 

               

 

 

                Apesar da hipocrisia baixamos os olhos por vergonha. Não de andarmos nus mas por  recusarmo-nos de ver a roupa interior magnífica, muito estimada em Orion.

 

                Em pedra e magma ficamos. Separados do esplendor.

 

                Mas a garganta do País Nenhum?

 

 

 

                Nove minutos para escrever o acima dito. Valerá a pena continuarmos por este caminho revelado? Soará a falso, será tudo imaginação?

 

                Não foi o que julgara o Hishi do pajé.

 

 

                Dentro do elevador do hotel em Bangkoc Laís ficou cara a cara com o pajé.

 

                Seu Hishi não resistiu ao Hasha de Nim e na resistência entre o Sim e o Não  não resistiu e caiu. Chamaram a ambulância. A polícia identificou-o como mais um traficante de heroína para o primeiro mundo. Desde que o mundo é mundo, lembram-se? Pois é. A vida de Laís também foi investigada e era ela quem cantava no fundo do bar. Reveillon de l999. Telefonou para a família no Rio de Janeiro. Tudo iria bem. Porque o Bem está solto.

 

                A libertação de Alimara Nim de dentro da Pedra poderia acontecer a qualquer momento,

                independentemente da política governamental e dos altos e baixos do fluxo do capital.

 

                Pois bem, a força que está por trás das BIG MULTI desvinculou-se dos Hashas e Hishis desde o  tempo de Atlashi,  não é o Bem nem é o Mal, é apenas a força cega Que magnetiza a energia vital dos seus colaboradores. Uma papoula gigantesca.

 

                Laís obviamente não entendia ISTO, mas já O havia  expresso, sem  saber.

 

                Por isso são poucos os que apreciam o canto de Laís, na inquestionável vertigem da sua queda.

 

                Se a mim foi dado conhecer a tal Força foi com certeza que para aprender não temê-la.

 

                Sei que esta estória chateia e intriga ao mesmo tempo e é tudo o que eu sei. Tudo está no que sentimos e a Arte sem sentimento ficou enterrada no século XX.

 

                O sentimento de Laís não projeta idéia nem ideal. 

                E Laís sempre está no aeroporto do país nenhum.

 

                Sem lógica integratória no dito real a estória escrita na gruta da garganta espera por nossa confirmação.

 

               

Que cara chato, devemos evitá-lo, o que quer dizer não publicá-lo. Então o que se lê aqui é uma miragem. Keep smiling.

 

 

                Soltar o verbo pode ser como soltar um marrequinho à beira da lagoa. Os pingos dágua serão o desenho aleatório e dentro de um padrão. É o padrão dos descobrimentos deixados pelos portugueses nas praias de Porto Seguro, Goa e Inhambane. O padrão de quem diz estivemos por aqui sem sabermos se ou quando voltaremos.

 

                A posse de uma terra inteira.

 

                Tudo já está escrito e é só colocá-lo em palavras. Entre o cuneiforme, o hieroglifo e as palavras muitos pássaros já cantaram.

 

 

 

 

                Sigo o rio com fé que êle me leve para o mar , o que seria mais natural desde que foi criada a natureza.

 

                O canto dos pássaros é natural, e se não cantam? Estarão se resguardando. Vamos ver o resultado. É só isso: o resultado. Dois mais dois darão quatro. Mas hoje ainda se vive exaustivamente da indeterminação. É moda.

 

 

 

                Inconformados com a subordinação da linha que vai da Gávea ao Pão de Açúcar a uma série cronológica de cartões postais, bruto espanto e indignação do pajé, nós os admiradores de Laís, uns gatos pingados de cariz egípcio,  caímos nos buracos deixados no astral do Rio de Janeiro pelo serviço de limpeza inter-galático. Só um grande amplexo criador, resultado de uma investigação amorosa apropriada, preencherá este efeito.

 

                Abracemos então o Rio de Janeiro circundando neste símbolo a Pedra da Gávea, o Corcovado e o Pão de Açúcar.

 

                E cantemos com Laís o cântico dos cânticos.

 

                A missão de Orion espera por nós, que libertemos antes, Alimara Nim.

 

                Isto é o que esteve escrito nas paredes da garganta da Pedra.

 

                A investigação amorosa é o princípio, o meio e o fim de nossa estória.

 

                É a estória do girassol e de seu sol. Desde que a fumaça urbana aparentemente os separou.

 

 

 

 

 

 

 

 

 


OVERHEAD
MAGA e BABY