"OVERHEAD - UM HIPERTEXTO MUSICAL"

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overhead (Segunda Parte) de Oluap Zuil Atarab Rinchoa-1998 https://members.tripod.com/~OluapAtarab “ Todas as santas manhãs cantava o Hino Nacional. Dona Zita, a velhota do Maneca Simões, contava assim às criancinhas: Êle era apaixonado por uma tôrre. A Tôrre de Belém. Pois ela, como um farol em fim de festa, o trouxera de volta à Portugal. Dizia êle que tal tôrre era bela como uma mulher pequenina e liberal! Que o seu sonho era que cuidassem bem dela. Num valente corcel branco até êle retornar. Naquele tempo escreviam tudo ao contrário! Já podeis da pátria filhos ver contente a mãe gentil…êle era o compositor… êle era o príncipe…êle era o sapo. Compreendeu tudo o Zèzinho. Perguntou então à professora Bebel do coral , que ensaiava a festa pro 7 de setembro: Como é que se faz uma melodia? Pai, lá na escola cantamos uma música sem pandeiro nem tamborim. A professora me explicou o que é o Hino Nacional. Uma homenagem que fazemos ao nosso país junto com a bandeira que sobe. Onde? Ora, num pau. Mais alto que o telhado da Zulmira. No morro o experiente Maguila começava a lhe dar uns toques. Ensinou pra êle a escala maior de dó e a menor de lá. Passeando por estas escalas se faz um monte de melodias. Não, não é só subindo e descendo, não! Sabe, o que conta mesmo é a inspiração. É a dor de corno. Qual dor de sapo! Tá muito novinho ainda pra entender essa zorra toda, de A a Z. Então quando? O que seria a VIDA COMO ELA É …? Zèzinho começou por tirar o solo de All My Loving dos Beatles. E não era mesmo que a melodia descia um pouco e logo subia pela escala de dó maior? Era assim: fa mi re dava uma paradinha e depois mi fa sol la si do. Seriam as paradinhas o segredo da coroa? E quem teria inventado as escalas? Já era muito pra sua cabecinha e concluiu por terminar de tirar o solo. Sim senhor, Zèzinho! Futuro intelectual bleque do Estácio. Pediria ao Luís XV a honra de fazer o acompanhamento? O Luís XV morava logo ali atrás, aliás se ouviam as brigas do Luís com a Baixota e às vêzes o Zèzinho batia na parede porra quero dormir! O Luís também batia um bom violão e a chinfra dele era tocar Nossa Canção do Luís Ayrão pra Baixota mudar de tom. Assim ela parava de chorar. Zèzinho saiu pra fora do barraco e com o giz colorido surrupiado da escola foi escrevendo nos degraus da escadinha dó em azul ré em laranja mi em vermelho fá em verde sol em amarelo lá em lilás e si em silêncio, é, escreveu silêncio. Aí executou a dança do All My Loving cantando e descendo e subindo como tinha descoberto. Para no silêncio e agradecia os aplausos. Estava assim inventado um novo jogo da amarelinha. A professora Isaura, muito zureta, deu pela falta da caixa de giz colorido. A caixa que era um cubo de madeira até seria de utilidade na aula de geometria no espaço. Foram os meninos da turma da tarde! Engraçado é que quem estudava no turno da tarde e ficaria famoso anos mais tarde seria o Luís XV, também conhecido por Luís do Estácio. (Numa pura geometria do espaço). Resposta: seria como a coitada da Zuleima levando porrada nas escadinhas, o Zèzinho vendo tudo sem poder fazer nada e o Segismundo gritando e referenciando o Luiz Melodia: UMA MULHER NÃO PODE VACILAR! Tia Ciata e o reinado das baianas no Rio de Janeiro. Praça Onze. O berço do samba. O impulso de Ismael no Estácio. A cidade Nova. Deixa falar. A primeira escola. Seu Nestor tinha ido visitar o Segismundo no presídio da Frei Caneca, levar umas cocadas da baiana a dona Eulália sem ela saber pois Dona Eulália jamais perdoaria o Segismundo. Caiu em contradição lá na delegacia. Foi o que o delegado disse. Quem? O Segismundo, tô falando do Segismundo, viúvo da infeliz Zuleima ora essa. Nunca ninguém viu o seu Nestor assim tão nervoso, tão fora de si. Contradição, contradição, que porra é essa de contradição? É dizer duas coisas que não podem acontecer ao mesmo tempo. Não lhe perguntei nada, Zèzinho. Fique aí na sua. O menino era fogo. Vai lá. Pega o violão e canta pra mim. Tô precisando. Zèzinho mandô vê num samba de Lupiscínio “Se acaso você chegasse…no meu chatô encontrasse aquela mulher… de quem você gostou…” É isso aí… Contradição… Marido e amante na mesma casa num dá… Dona Eulália, como se sabe, era absolutamente fiel . Tinha fama no morro onde era sobrinha-neta da famosa Tia Ciata. Mas dizia em tom pomposo que era neta mesmo. Por isso era chamada de a baiana. Ainda assim herdara as habilidades de fazer um bom cuscuz de côco no aniversário do jovem Zèzinho e de um vatapá no dia do seu Nestor. O boato se espalhara ràpidamente pelo botequim Apolo. Ismael tava puto da vida com aquela idéia de mudança no nome. Num vai colocar o 11 no Apolo, que eu num deixo. Seu Nestor indignado esbravejava defendendo só APOLO em honra a Ismael e Chico Alves. Que isso de Apolo Onze? Não se pode brincar de Deus impunemente. Ô seu Nestor, é uma homenagem à praça 11, que como o senhor mesmo diz, foi o berço do samba. Qué me fazê de mané, seu Maneca Simões? No entanto o Maneca Simões nunca tinha visto o Zèzinho assim tão pensativo rabiscando uns garrafunchos no guardanapo de papel. Tá dando uma de Noel, seu Zé? Minha namorada diz que é feminista, Maneca. E daí? Toda mulher tem que ser feminina. Se não , já viu, né! O pau num sobe. Né nada disso, seu Maneca. No dia seguinte Zèzinho chegou com o Pasquim debaixo do braço e abriu o jornal na cara do Maneca Simões. Era a foto de Leila Diniz com o barrigão de grávida de bikini na praia. Flamengo x Vasco da Gama. Seu Maneca fechou o Apolo (11?) naquele domingo à tarde. Não é que o seu Nestor era capaz de ter razão? Que a chegada do homem na Lua tava mesmo virando a cabeça da moçada…assim matutava o portuga em direção ao estádio do Maracanã. Os dois amigos do Zèzinho companheiros assíduos do botequim Apolo 11 eram o Overnaite e o Birinaite. De literatura é que não manjavam.O Brinaite, por motivos óbvios, mais ligado em birita do que em qualquer outra coisa deste mundo. Quando não se via o Birinaiti com mulher. Careta assumido, passador de fumo eventual. O Overnaiti, este muito louco, ganhara o apelido porque dizia que não jogava no bicho, só na Bolsa. Quando chegava em primeiro no Apolo abria o jornal Globo como toalha de mesa de bar e analisava, analisava eram as corridas de cavalo lá do Jockey Club. A bolsa, tá se vendo, estava situada ali no Jardim Botânico. Os seus ganhos, o nego eram mesmo bom naquilo, davam pra pagar as passagens de ônibus, a birita diária, o cigarro Hollywood e às vêzes descia na porta do Apolo vindo não se sabe se da Lapa, de táxi, acompanhado por uma putinha. Birinaiti e Overnaiti percebiam patavina de um corno de música. O que os fazia um trio era difícil de se perceber se não fôsse a amizade que os unia desde o sempre. Nas noites de sábado iam os três aos bailes do County Club da Tijuca, ali no cimo da rua Uruguai. Tava se ajuntando muita gente no portão do clube. Zèzinho se encostou no muro de uma casa em frente. Alguém lá dentro, possìvelmente eu mesmo, tava tocando piano. Indentificou a melodia do Noel. Eram os Três Apitos. Vamo lá- cutucou o Overnaiti. Vamo lá pulá o muro que os segurança tão todos no portão. É gente pra caralho. Subiram o ladeirão que subia para o morro da Formiga. Na curva ao alto era fácil escalarem a grade do campo de futebol. Qualquer azar, havia muito espaço pra correr e muito mato pra sumir dali. Sabia que o Steve Wonder também tem dezessete anos? Eu vou fazer dezoito mês-que-vem. Respondeu o Birinaiti. O que o Zé havia pensado é com quantos anos é que êle faria sucesso. Foi quando êle viu do outro lado da pista de dança uma menina magrelinha olhando pra êle. Segura aí a cuba libre que eu volto já. Tava tocando Johnny Reevers. Mais romântico o clima. Do you wanna da dance? Pegou ela prá dançar. A luz negra fazia do seu sorriso uma fosforescência. Bem como da sua camiseta branca com a inserção Hollywood e o copo de wodka com gelo na mão de alguém. Então, ficou com o telefone? Marcou encontro? Ou marcou bobeira? Era ali na Hadock Lobo, esquina com São Francisco Xavier, na Nanda Florista que êle ia comprar rosas para oferecer à namorada. De nome Rosinha , para ela êle era o Conde. Vamos passear em Paquetá. Pra aquietá um pouco! Ou quem sabe andar de tobogã. Um homem como os de antigamente pensava a Nanda Florista mas nada dizia admirando a elegância dos passos afora do rapaz. Ela não lia a SÉTIMO CÉU. Olívia na verdade era gente muito fina. Cultíssima. Vão por mim que Olívia morava na zona sul do Rio de Janeiro, precisamente na Gávea, debaixo de uma linda palmeira imperial. Os versos de Byron eram o seu pão de cada dia e Sthendal de cor e salteado sabia. Enquanto operava no seu tear os seus fios de seda tinha aulas de canto com a professora Mercedes Pamplona, a Grave. O único problema de Olívia é que era uma menina presa. Uma espécime rara de Rapunzel até cabelão ela tinha. Passava as tardes a cantar com sua voz de rouxinol fugido da China as bachianas do Villa como que fôssem um caminho aleatório para fora do seu castelo. Um dia, era uma tarde de sábado daqueles que as meninas da pá virada se preparam para as festinhas sabatths provenciais, Olívia passava a ferro a sua velha calça desbotada Lee enquanto ia cantarolando certas frases musicais desconexas que queriam dizer tô aqui tão sòzinha ai de mim foi para sua grata surpresa que ouviu uma réplica vinda do exterior. Vinda de um sax tenor. Do outro lado do mágico jardim. Este diálogo musical se prolongaria por muitos sábados até o início do verão carioca. Olívia que era palito engordava de felicidade. Mas não dispensando o sundae com a Tia Mirtes no Bob´s da Bartolomeu Mitre, Leblon. Local no qual Um tal de Negro Gato flagrou-a com sua visão de Um Dia um Gato e ao invés de ver o Jan Pallach ardendo em chamas em Praga ficou foi vendo uma grande bola colorida por cima da cabeça de Olívia. Naquela tarde ainda cantaria mais feliz do que nunca. A diferença audível era a voz do Sax que se aproxima, se aproxima dela. Tocaram a campainha lá embaixo, Ó Olívia vai ver quem é e pergunta quem é … quem é? Os três gnomos pulavam pelo jardim. Ela já sabia. Não é que se casaram um mês depois e foram felizes para sempre? Como nos contos de fadas. Ela e o dono do Sax . Que não me deixam mentir. Recentemente Olívia foi agraciada com a Ordem do Graal. Entrevista com o futuro intelectual Zèzinho do Estácio: O único livro (produto cultural?) que opera independentemente do sonho antropológico do lugar é o I Ching. É muito difícil segui-lo. É muito difícil acordar. CADA CARA REPRESENTA UMA MENTIRA. NASCIMENTO, VIDA E MORTE, QUEM DIRIA? (2) E quando dá coroa? Sacanagem era o nome mágico do sexo carioca. Sacanagem era transmitida aos guris através das revistinhas de sacanagem do Carlos Zéfiro. Além das imagens a sacanagem estava disseminada no discurso do narrador e no diálogo das personagens. Transcedendo a biologia da coisa, tratava-se da verdadeira cultura da sacanagem. Com mais sabor apimentado que o sexo pròpriamente dito. A transmissão de uma cultura, os mestres do samba e do blues o provam, nunca pode ser conseguida de forma didática. Trata-se de passar uma onda. O duende chega, olha e vai embora, diriam os tocadores de flamenco. O homem, ouve bem o que tô dizendo, dizia o seu Nestor aos seus cumpadres, o homem nunca vai chegar na Lua, se já chegou. A Banda ,do Chico Buarque, não está presa ao sonho antropológico do Lugar. Embora refira aos personagens do Lugar , este é atravessado pela Banda. A Banda vem e já se foi: é um conto da Tradição. Um conto universal. Contado por um rapazito de 22 anos, genial. Todos conhecem a Carolina do Chico mas ignoram a lei de Carol. Tô de cara, de Carol. Já ando há muito tempo de Carol o que é o mesmo de enunciar a definição de limite. De Carol é o limite para onde tende a loucura de cada qual. A cristalização do aparelho mental? Serei reacionário como o Nélson Rodrigues ou apenas constato que o sonho antropológico do Lugar (a maya localizada) transformou-se num pesadelo indecifrável? Mas que saudades do bafo-bafo. Assim continua a entrevista … coisa e tal … D esculpem lá os cortes e o enquadramento! Zèzinho começou a andar com o Ibório, aquele violeiro que pressentia sismos em Portugal e chegou a gravar com o Zeca Afonso em Paris não fôsse êle persona non grata ao regime de Sal e azar. Um dia Ibório saiu nu pelas ruas de Lisboa, imagina! E foi repatriado, mas Portugal era do Graal. Ibório conheceu o nosso Zé naquela loja de artigos e instrumentos musicais da galeria do cinema Tijuca-Pálace. Ibório aconselhou umas cordas metálicas pra fazer um som à Cat Stevens. Zèzinho aceitou e daí se tornaram amigos. Foi com Ibório que o Zé se iniciou nas aventuranças pela Zona Sul do Rio de Janeiro. Naquele dia em que foi apresentado ao Marquinho Natureza foi engraçadíssimo pois tudo que era ouro pro Marquinho êste proferia exultante: é do Graal! Zèzinho pensou que do Graal era do caralho noutra língua. Fecharam a porta do quarto pra ouvirem uma gravação de extra-terrestres. Pin. Pom. Pim. Pam. Pim. Marquinho repetia: é do Graal! Na despedida Zèzinho estava mais confuso do que quando entrara e no ponto final do 415, ali no Jardim de Allah, não tirava os olhos do céu. Ibório soltaria uma enorme gargalhada e diria: êsse Marcelo é do caralho, aquela é uma gravação dos microtons do Smetak! A Invonete não desgrudava da Elba parecia até que tinham um caso. Ibório cutucou Zèzinho você parlapia com a Invonete que eu tomo conta da Elba. Zèzinho tava mais pensando era na Rosinha mas a Invonete até que dava-lhe um tesão bacana. Tava na hora do pôr do sol no horizonte o sol tá parecendo um iglu, iglu de esquimó, agora sim, parece um disco voador. A Invonete disse logo eu também quero um. Um o quê? Tá pensando que eu sou a Rosinha? E encostou as coxas nas coxas do Zèzinho. Nossa Senhora! O Alex surfista, o verdadeiro sufi surfista, passou seu lema SOFRER SOU FREE SOUL SURF do tipo overhead e avisou: Ibório, o Marquinho tem uma letra procê! Invonete, não, Ivonete! Contra a cultura não, é contracultura tudo pegado. É o nosso movimento que vai da Zona Sul até o Rio Grande do Sul veja lá esta revistinha Orion. Tudo que é underground é que vai dar pé. E essa 2001 do Paulo Coelho? E a Flor do Mal? E a Presença? Nada em cima, hein? Tudo na cabeça! Quando Ibório soube que o que o Zé tava namorando a Rosinha do Borel não quis acreditar. E eu que achava que tu era meio otário. Com a Rosinha do Borel? Mas o que tem a Rosinha? Zèzinho na verdade não sabia era de nada. Até fumava escondido dela como aquele dia na praia da Barra. A praia da Barra da Tijuca estava completamente deserta naquela manhã de terça-feira daquele mês de maio de l972. Nego Gato pegara o 233 na praça Saens Pena e ali estava. Do ponto final até pisar naquela areia macia havia andado um bom bocado. Tirou a roupa até ficar só de sunga. Sua pele negra brilhava. A de Rosinha mulata não. Fôra de vestido e tudo molhar os pés na espuma branca. Virou-se que nem Afrodite tropical e chamou: Vem! Nego Gato deu um beijão na boca de Rosa mulata apertando-a com toda a sua força de Apolo. Foi tirando o vestido dela que êle se apercebeu do carro rádio-patrulha se aproximando e brecando no acostamento de areia e cactos. Dois tiras sairam do camburão e desceram assoviando em direção à praia. Rosinha, que foi? volta ali pra toalha que eu já venho. Deu um mergulho rápido dispensando o baseado pras águas de Iemanjá, que trazia escondido sempre dentro da sunga suada. Os tiras já tinham pedido os documentos à Rosinha. Teus documentos, negão! Nego Gato tirou do bolso da camisa a carteira de identidade do Instituto Félix Pacheco e a carteira da Ordem dos Músicos. Você é o Nego Gato, em pessoa? O tira lhe ofereceu uma cerveja e ia pedindo um autógrafo, olha, esta mulata parece que eu tô sacando ela, é a Rosa do Borel! Agradeço mas vim pra praia com a minha namorada. Tá limpeza, não é Jurandir? Vão bora! Porra, perdi o meu baseado por causa destes sacanas. E eu, não sou melhor que baseado? Rosinha ria e ia tirando o vestido côr de rosa-choque. Podes crer, Baby! Nana, nana Caymmi! Assim os cientistas da Ciberpsicologia explicam que o compositor era embalado com canções de ninar por sua mãe compreensiva a sua capacidade de gerar canções tão doces como todas as da beira do mar. A Ciberpsicologia hoje considera que tudo está no nosso cérebro ao mesmo tempo. Que a ilusão do tempo linear é um tear que trabalha de trás pra frente e que desfaz toda ulma tapeçaria universal. Parece papo de Borges mas é apenas “Peguei um Ita no Norte E vim pro Rio morar Adeus meu pai minha mãe Adeus Belém do Pará” (4) Muito bem, muito bem , aplaudiam o Zèzinho nas festas da escola. A Ciberpsicologia sabe que o mundo todo é um símbolo difícil de encarar desde que na sua cara está o centro de seu olhar. Textos como este não dizem absolutamente nada e só existe a necessidade de interpretação e dissecação quando algo vai mal. O que não é o caso. Por isso embala-te também : nana, nana, neguinho. Se estamos no auge da Kali Yuga nisto não há nenhum mal. É um dado no lance do Jogo Universal. Zèzinho perguntou pro Ibório o que êle achava de mandar o texto acima para a revista 2001. Que nunca mais saiu. Em compensação ganhou um disco do Santana. Era um sábado. De 1972. Em abono do Zèzinho: Zèzinho formulou uma teoria muito da caprichada: a que diz que depois do ano 2000 as pessoas não teriam uma referência do futuro mas sim o infinito do tempo pela frente alterando radicalmente a psicologia social. Adotei plenamente esta teoria mas tive que aprender sânscrito a língua do Sim, silenciosa e musical! Cadê o meu diapasão? Todos sabem que as favelas só se ajustam na perspectiva da cachaça na cabeça do negão. Arquitetura errática quase que beirando o precipício fractal de Mandelbrot sôbre a montanha. Não seria assim também a favela do morro do Borel onde reinava Rosinha? Rosinha a nossa rainha do tráfico que dava um beijinho no morrão antes de depositá-lo em nossas mãos com um vá com Deus meu filho. Quantos anos você tem parece mais novinho já tá na faculdade, particular, ela é particular, particular ela é particular. Essa é da boa. Veio da Bahia. Até o delegado endoidou. Meu filho, cuidado os teus caminhos estão cruzados por um x de moça mas não posso dizer mais. Pai de santo de Rosinha fica ali no Catumbi por cima do túnel Santa Bárbara mais em cima só mesmo a Santa Teresa e o seu bondinho iluminado pelo Cristo cheio de artista mas eu não era artista era estudante de Física na PUC. O chão de cimento em frente à porta do barraco servia de tanque para Rosinha esfregar e enxaguar a roupa da semana. As crianças ficavam ou de fora ou dentro da minúscula sala. Aquele ritual de higiene não podia ser interrompido. O rádio sintonizado na Rádio Nacional. WWW já existia: Wanusa , Waldirene e Wanderléia. Emilinha Borba já era. Três filhas com três homens que se picaram os três. A primeira foi de violação. As outras duas de enrolação. Rosinha não acreditava mais em homem nenhum mas gostava de Zèzinho. Do seu jeito desligado e sensível de ser. Não me bate não que eu não deixo dizia orgulhosa para as comadres quando passava ferro para alisar as suas carapinhas de neguinhas. Meu amor, hoje não com saco pra papo careta. Tô de saco cheio. Já tentei me suicidar (ver descrição no fim do livro). Mas o dia amanheceu e havia passeata de estudantes na avenida Rio Branco. Me chamaram de alienado mas eu entendi foi viado. Tinha dormido no gramado do aterro do Flamengo. A igreja da Glória lá no alto Você passou por mim mais o Vladimir e me viu naquela posição fetal e muito pequenino e seguiu adiante. Até onde Você foi? Já chegou ? Sei que o meu destino é ser negro gato para o meu azar e sua sorte na estrela está ali. Mas vinha a multidão dos estudante e eu subi em fuga as escadas do prédio da Biblioteca Nacional. Procurando por um pratinho de leite, minha filha. ATENÇÃO: BAIXOU O ASTRAL Que tôdas tinham morrido mas não sabiam era um fato. Rosinha não estava só naquela cela vazia. Só o seu canto silenciava aquela noite. Era o canto do Summertime. Sim, estava à espera que Zèzinho viesse e a tirasse dali. Estela a carcereira lhe prometera. Não podia parar de cantar que as vozes voltavam. Num canto pousava um baralho surrado de cartas murchas. Rosinha embrulhou as cartas com nojo e pudor num pedaço de jornal e pediu para Estela que o jogasse no rio. Que rio? O rio da Vida. Ou podia ser no rio Maracanã? As duas fanchonas olhavam uma para a cara da outra com as caras de espanto mútuo porque melô era aquela que Rosinha cantava acima de qualquer tom era Summertime que Rosinha tinha aprendido com Zèzinho lá na ilha de Paquetá. Parece cena de cinema, não é? Todas em silêncio agora compreendiam ser aquele canto o delas dali para sempre. Se sempre houvesse a voz de passarinho de Rosinha estaria pousado entre as grades daquela cela. Quem responderia àquele seu chamado? Que beleza! Exclamou Soraya, a cigana. Havia a Ruth. A Ruth China. De Sayonara em Sayonara balançava os quadris. A Soraya cigana dizia que fôra rainha em outra encarna. Uma rainha russa muito da metida à besta. Tava ali para aprender. O que?, só se fôsse bandidagem respondiam as outras. A Luiza Mandrix e a Baby Babylonia . Não podiam uma com a cara da outra. A Sônia Psiu que de longe pressentia os passos da guarda. A guarda Estela. A Sheyla Carcará, nordestina cabra da peste, era epilética e desdentada. Quando Rosa Purgatório chegou de que maneira se enquandraria naquele cenário dantesco? Por que ela tava ali? Ali era o inferno, meu bem. Soraya disse eu já sabia tinha lido nas cartas surradas que a morte rondava e que vinha de geração em geração, terras e mais terras que foram suas na Rússia do tsar. Todas respeitavam as excentricidades daquela cigana. As cartas não mentiam jamais. Baby Babylonia bem ao lado do buraco de cagar lia permanentemente a Bíblia. Apocalipse de cor. A grande meretriz louca. Seus olhos chupados de ódio preferencial por Luiza Mandrix. Soraya era a xerife daquela mínima cela. E não havia hipótese para quem não transasse com ela. Seria a gaiola das loucas? Estela a carcereira era jóia. Fora faca, navalha ou porrada era permissiva no deixar rolar o que rolasse. Tinha aprendido, por mais que o padre da paróquia do Engenho de Dentro dissesse que não, que purgatório e inferno ficavam aqui na terra mesmo. Ali só era um exemplo, seu padre, e mais nada. As cartas queimou-as como recomendou o pai de santo. Rosinha desmarcou tudo. Tudo engloba o passeio à Paquetá. O que que há? O que que houve? Enterro no cemitério do Catumbi. Geraldine Françuá chegou chorando avisando mataram o Galuá. Galuá o baiano frajola e o melhor contabilista das bocas de fumo de todo o Brasil. Aquele que fazia o suplai tchein como dizem os americanos. E calculava o retorno, tudo direitinho. Vai Galuá, vai tirar um curso de programador no LSD-DATAMEC. É ali pertinho do cemitério do Catumbi. Programador de Assembler vai dominar o mundo. Ah que palavras. O estudante da PUC lhe explicara os trâmites todos que não era preciso nem ter o científico concluído. Conclusão: bastava saber raciocinar. Que era o forte do Galuá e não o dedo rápido e explícito no gatilho. Sim, fôra uma espécie de duelo. Que o Toni queria comer a Jussara à força foi o que contaram. A Jussara no enterro teve um ataque e caiu durinha. A polícia deu um baculejo no barraco e encontrou um recibo de inscrição. LSD … foram tirar explicações pois que são sempre tiras. É, o rapaz que até ganhara bolsa de estudo tinha um QI extraviado. E uma cartinha de amor para Jussara amor eu vou sair desta vida. Vou cair fora. Carta esta encontrada dobrada no barraco do Tião. O Tião quem controlava tudo era mais feio que o Cara de Cavalo. Rosinha ainda ia até a praia sim. Mas era pra pegar tatuí. As ondas espalhavam aquela imensa espuma branca. Quando a água vazava inúmeros buraquinhos trepitavam em resposta. Eram os tatuís fazendo seus túneis que nem tatus. Só que tatuí é do tamanho de uma unha do dedo mindinho. Um saco de plástico cheio de tatuí dava pra cozinhar com arroz e ficava uma delícia. Rosinha sabia. Rosinha queria virar uma tatuí. E sumir. Filosofia sensorial seria sentir a pele macia de Jussara de encontro à sua mão de bandido. Era só uma questão de tempo o encontro no aberto com Tião Macalé. Quando se é mais que um animal, um imortal. Nem olhava pra porra do relógio Jussara cantarolando The More I see you num inglês próprio das meninas apaixonadas quero uma máquina de costura pra fazer a tua fantasia de Zorro e o meu vestido de noiva mas não havia mais canto de sobra naquele barraco era que o morro não poupava espaço. O aberto era o campinho lá no alto. Galuá tava com a posse da redonda no campinho do morro de Dona Marta de onde se avista tôda uma baía da Guanabara. Com a camisa número 8 do Gérson distribuía o jogo como orientava o tráfico da maldita embutindo um 45 por baixo do calção que já esperava a qualquer hora pelo Tião. Tião rebentou pelo escanteio, onde é que tá a massa? ,e apontou a arma de modo que Galuá não teve alternativa levando um balaço no peito que o sangue esborrifou tapando-lhe a visão do Cristo Redentor um pouco só mais lá no alto. Jussara também queria o disco do Chris Montez. Ficou ali estirado de costas no meio do campo que o 8 quando cai é mensagem de infinito. Naquela noite choveu muito. Até parafuso e navalha. Estela rezou, rezou e na manhã seguinte foi falar com o padre na matriz. No outro dia pediu demissão do cargo de carcereira. Estela trabalha agora no Luna Bar do Baixo Leblon. Despacha cerveja atrás de cerveja até altas madrugadas. Foi lá que conheceu o Negro Gato. Não tinha papas na língua com êle. Dava pra fazer música com aquela estória? Como era o nome da moça, mesmo? Rosa Purgatório. Negro Gato lembrou-se da Rosinha. Havia de encontrá-la. Talvez nem o reconhecesse. No fundo do bar alguém cantava Summertime. Era a Olívia. Grande Olívia. No fundo da garrafa sabia que o seu mundo não era aquele ali. Ficou matutando naquilo das cartas do destino deslizando por um rio imundo de sujo. Um hare-krishna careca com trancinha passou e lhe ofereceu um livro. Tinha a ilustração de uma flor de lótus linda de morrer com as raízes imersas no lodo. O hare hare diante do seu olhar vidrado falou: esta é a nossa condição humana. E a nossa possibilidade divina. Negro Gato respondeu: é isso aí irmão. Virou-se para trás e pediu uma outra cerveja à Estela. Olha Estela, te dou este livro em troca da tua estória. Não é da tua religião mas a capa é jóia, não é? O sol amanhecia nas pedras do Arpoador. Era um ovni que da janela redonda Rosinha parecia lhe dar uns adeusinhos. Negro Gato adormeceu. Sonhou que era um conde. Do tempo de Luís XV. Acordou com uns chutes nas canelas. Documentos, negão. Tá tudo em ordem. É aquele que canta no programa do Chacrinha. O Super-Carioca de plantão, o Negro gato de telhado em telhado ganhava consistência iniciática para levantar vôo e depois voava. Sôbre os céus da Zona Norte cruzava o Sumaré bem por cima das tôrres de transmissão da TV GLOBO e por um incrível fenômeno de polarização das ondas do pensamento em teleinformação introduzia-se nas casas dos queridos telespectadores, isto sempre às duas da madrugada. Naquela noite foi assim. Novamente aqui vos fala o Negro Gato. O Rio de Janeiro continua lindo mas as nossas favelas, NOSSAS, continuam o vosso gueto. Diretamente do bunker do Borel, dito Carrefour em outras línguas, Negro Gato vos cumprimenta. Uma boa noite. Quem conhecesse o pedaço sabia que ali era MAIS a fábrica de cigarros Souza Cruz. Negro Gato era de morte na arte do ilusionismo! Tio mano Isaías tinha já se aposentado. Morava na barraca outrora pertencente ao Maguila. Dizia que se soubesse escrever bem escreveria um livro mesmo mal escrito. Tinha e como tinha muitas estórias para contar. Do arco da velha. Coisas de que ninguém sabia. De Cabo Verde e Moçambique, da Guiné e de Angola, que não era só galinha não. Da África, origem do nosso povo dizia ao Zèzinho. Lá também falam português, além de ronga e tsonga. O portuga colonizou meio mundo, dividido pelas Tordesilhas. O outro meio mundo ficou para o espanhol e o inglês colonizá. Imagina que lá ainda não chegou a Independência mas também já não tem escravidão. Dizem que preto escravizava outro preto, vê se pode! Nossos tataravós vieram da África, pois é claro, eu e tu temos cara de povo bantu. As moçambicanas tem os olhos puxados que nem chinocas arregaladas e são lindas de morrer. Nunca vi tanta mulher bonita, meu deus, graças a deus! Ô xente! A música lá não se parece com samba não. Mas que tem muito batuque é que tem mesmo. Isso eu não posso negar. Feijoada, arroz,feijão, toucinho isso não. Comem matapa, tudo na base de amendoim e folha de abóbora. Folha, é! Mandioca tem. Dizem que a cidade, de nome Lourenço Marques, se parece mais é com Salvador da Bahia. Incrível, nunca aportei em Salvador. Terra da avó Ciata. Parava era em Recife. Conheci lá em Lourenço Marques uma negra chamada Amélia. Sim, Amélia que era mulher de verdade! Uma noite, na cama de uma pensão que dava para a baía, dizem que parecida com a de Todos os Santos na Bahia, com vista de luar para Catembe, onde eu ia passear com Amélia nos dias de folga, ela me disse que tinha um nome tradicional. Perguntei que nome é esse e ela não soube explicar direito. Mas que o nome protegia ela. Engraçado, lá não tem candomblé nem nada que se pareça. Ninguém tinha ouvido falar em Xangô, ô meu pai, nem em Iansã nem nada. Mas que o candomblé veio da África, isso veio. Agora de que lugar, não sei. O samba? O samba foi criado aqui mesmo. Nas rodas dos bambas da nossa tia Ciata, bendito o seu lugar no céu. A semente veio da Bahia, que a Ciata era mesmo baiana. Depois o Ismael evoluiu o ritmo pra que se pudesse cantar e dançar ao mesmo tempo. Isso, no desfile da escola! Era pra-ti-bum-bum e passou a ser pra-ti-ti-pra-ti bum bum o que facilitava o entrosamento dos pés com a melodia. Ciência, isso é que era! Sim, saí três vêzes na Deixa Falar. Depois entrei pra Marinha e acabou-se o meu desfilar. Foi graças ao cumpadre Ismael e hoje tô aqui contigo neste barracão. O barraco? É pequeno mas é jeitoso, falavam assim lá na Guiné. Jeitosa, que menina jeitosa! Tem mais espaço que o camarote no navio. Dividia com o Ambrósio. Era um bom sujeito, o Ambrósio. Tive sorte. Nunc nenhum problema com êle por causa de mulher. Quando é que ocê vai me mostrar o teu sambinha? Não é sambinha, então é o que? Essa é boa, fala no Estácio, as outras duas não entendi patavinas. Bulhufas. Tem harmonia? Mas pode ser, quem sabe? Lhe dou as minhas bênçãos, mas só Oxalá pra abrir os teus caminhos. Vá sobrinho, vá com Deus! Mano Tio Isaías morreu há um ano, de câncer no pulmão. O enterro foi ali no cemitério do Catumbi. A ilha de Cabo Verde. Um dia haveria de lá chegar. Queria conhecer a Cesária, de quem tio tanto falava. Tem uma voz, rapaz, de estarrecer. Fantástica! Cantava pros marinheiros na zona, não tinha a menor cerimônia. O livro que ganhara do tio Isaías, o único livro lido, sentido e absorvido por Zèzinho era o Angústia, do Graciliano Ramos. Se arte existisse, aquilo era arte, o resto era conversa pra boi dormir. Quanto aos espinhos da Rosa faziam por doer na carne. Eram as tais dores de amores que o Maguila já o tinha prevenido há muito, muito tempo, mas êle ainda precisava de aprender. Quando quis aprender como fazer uma melodia , Maguila cutucou-lhe no ombro. Agora doía era no peito. Louco é aquele que não comunga do sonho antropológico do Lugar. Se toda a aldeia tem o seu louco é porque em todo sonho existe um buraco fatal perante a existência real. O poeta enlouquecido, brincou antes com o fogo Sonhar o sonho por outros ângulos era o trunfo do doidão em relação ao careta. O buraco era mais embaixo, como dizia o malandro do Galuá. Zèzinho parou para comer um cachorro quente no Largo do Machado. A praia do Flamengo, seu timão, tava ali perto por trás daqueles prédios. Lá chegaria num passo rápido e balançado. Afinal, estava na Zona Sul, e sem o Ibório. Desceu pelo Aterro até o Mam. Show do Nego Gato anunciado. Atravessou a ponte e cortou em direção aos Arcos da Lapa. Ali afinal já era terreno seu. O cachorro caiu mal, pediu um sonrisal! Alguém batia-lhe nas costas. Você não é o filho do seu Nestor? As putas saiam da buate para as calçadas da Glória. Uma brincou com êle: sim é o Nestorzinho. Êle balançou a cabeça na afirmativa. Eu sou o Ismael. O bamba do Estácio. Zèzinho se lembrou do poste e deu um sorriso. Verdade? Manda um recado pro teu pai. Não te esqueça, por favor. O Antonico faleceu. A missa vai ser amanhã, encomendada por mim. Na Igreja dos Sagrados Corações. Você é a cara do teu pai. E sorriu. Zèzinho voltou atrás pra perguntar a que horas mas já o perdera no breu das noites cariocas. Aquela notícia fez-lhe sentir andando numa corda bamba. De um bamba do Estácio ou seria efeito do Sonrisal? Deus e o Conde estavam de mão dadas sentados no patamar do alto do tobogã ali de São Conrado. Largaram e à partida o Conde apertou ainda mais a mão de Deus que não podia ir tão longe e deixar os humanos abandonados. No caos. Enquanto houvessem corações e Caos. Ao meio da descida do tobogã de São Conrado Deus e o Conde já deslizavam pelo Cosmos. O Conde já ia quase liberado à sua volta era onde tudo brilhava. Mas o Conde pensou em Rosinha. Rosinha tem medo de andar de tobogã. Como Deus havia de cumprir a sua promessa regressaram os dois ao início do túnel que era o fim do tobogã. A tempo do Conde abraçar Rosinha levantando-a pela cintura e os dois rodopiando êle sussurando para ela: sua boba, o tobogã é o maior barato! É mesmo do Graal! Por cima do túnel, do outro lado a faculdade, um cartaz mostra os dois se amando e anuncia OVERHEAD o filme. POST Ninguém acredita que o Marreco comprou aquele fusca que o tenha roubado é mais provável que a chapa era fria e êle especialista em chave falsa e a noite zunia sôbre o Alto da Boa Vista. Da curva do S nunca mais voltara nem, julgo eu, voltará tão cedo para contar o resto da estória. O Marreco, o Pato Rouco e o Meia-Lua. Quando disseram o Meia-Lua morreu constatávamos que estávamos vivinhos da silva por verdadeira oposição entre o mundo dos vivos e o dos mortos. Os meandros da Juventude Transviada eram feitos de curras, curvas, acelerações e mudanças no tempo sem a utilização da dita embreagem. Sabíamos que aquele desafio tinha tido o seu alto preço de uma vida como a nossa. Mas tudo isso pensávamos em silêncio quando cruzávamos a vila do Vavá e seguíamos em direção à Barão de Itacuruçá para darmos a nossa tradicional volta ao quarteirão. Eu, o Juquinha e o Fernandinho. Aquilo tudo que pensávamos em silêncio, forma ancestral de meditação, seria a razão deste livro. O Zèzinho era o menino empregado do pai do Juca na alimentação das galinhas de angola, coelhos e codornas. Que com muitos bons modos, sentados os dois no portão, me explicou que no morro da Formiga os malandros fumavam maconha. Que a maconha dava força. Estávamos na época da pipa. Depois viria a do pião,a das bolas de gude e ainda depois a do bafo-bafo. Ainda não havia chegado o tempo da loucura. OUTRAS REFERÊNCIAS MUSICAIS: com caco de telha, com caco de vidro e da melhor forma possível - verso de Luiz Melodia (1) - verso de Orestes Barbosa (2) - verso de Luiz Melodia (4) - verso de Dorival Caymi